COMO LIDAR COM SAUDADE, PERDA E LUTO

Originalmente publicado no site G1 | 17 Dec 17

Psicanalista faz alerta contra a “obrigatoriedade” de ser feliz: “vivemos numa era na qual rejeitamos a qualquer custo o sofrimento”, diz Eloisa Adler.

*Por Mariza Tavares, Rio de Janeiro

Com o ambiente maciçamente festivo de dezembro, é quase obrigatório estar esbanjando alegria. No entanto, as festas de fim de ano também podem significar tristeza e luto: um ente querido que se foi há pouco tempo, um casamento desfeito, a perda de um grande amor. A data pode até coincidir com o aniversário de um evento especialmente triste. Ou provocar um sentimento negativo por remeter a uma época mais feliz, de família reunida – sem divórcios, brigas ou mortes. Os motivos variam, assim como o gatilho para a sensação de dor ou desconforto: montar a árvore de Natal, a decoração e as músicas natalinas, um prato de rabanadas...

É quase como andar num campo minado, reconhece a psicóloga, psicanalista e especialista em gerontologia Eloisa Adler, membro do conselho consultivo pleno da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia seção RJ: “quando há uma perda, que pode ser uma separação, ou uma morte, não há como negar que as primeiras datas são muito duras, porque a pessoa ainda está tateando em busca de ressignificações na nova configuração da sua vida”. Entretanto, ela ensina que esse luto, que não precisa necessariamente estar ligado à morte física, e sim a qualquer tipo de perda, não pode ser negado: “a gente acompanha a cicatrização de um ferimento no corpo e sabe que ela não se dá de um dia para o outro. O mesmo se aplica a uma ferida na alma. Décadas atrás, as pessoas se vestiam de preto e se recolhiam para demonstrar que estavam vivendo o processo de luto, mas parece que roubamos esse direito dos indivíduos na sociedade contemporânea”.

Dra.Eloisa Adler: direito ao luto tem sido negado aos indivíduos na sociedade contemporânea. (Foto: Mariza Tavares).

Eloisa propõe o que chama de um “acordo com o tempo”: “não devemos pensar tanto no tempo do calendário, o chamado cronos. Temos que aprender a viver também o kairós, que não é a dimensão do relógio, e sim o tempo subjetivo de cada um, do inconsciente. Dessa forma, os sentimentos encontram um ambiente mais fluido e palatável de apaziguamento, de acordo com o ritmo de cada um”. E faz um alerta contra a “obrigatoriedade” de ser feliz, ainda mais nesta época do ano: “essa ditadura da felicidade é nociva. Vivemos numa era na qual rejeitamos a qualquer custo o sofrimento. Quem não se encaixa no padrão acaba apelando para a farmacologia para estar ‘adequado’. É preciso repensar isso o quanto antes”.

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